O vinho é uma das bebidas mais antigas do mundo e também uma das que mais se diversificou com o passar do tempo. As características geográficas e físicas da região de cultivo, o grande número das variedades de uvas e as diferentes técnicas de produção proporcionam a cada criação uma infinita gama de possibilidades, tornando cada exemplar uma bebida singular e especial.
Uma das variáveis responsáveis por tamanha evolução dos vinhos é a utilização de diferentes castas em sua elaboração. Classificada como vinho de corte, essa seleção elaborada é capaz de fazer com que os apaixonados pelo mundo dos vinhos busquem refinar seus paladares e encontrar os melhores rótulos da bebida.
Preparamos este conteúdo completo para que você entenda tudo sobre vinho de corte, blend e assemblage. Acompanhe!
O que são o vinho de corte, blend e assemblage
Por mais que esses termos pareçam distintos, eles significam a mesma coisa, apenas em línguas diferentes. Vinho de corte em português, blend em inglês, e assemblage em francês. Todas essas palavras indicam vinhos que foram produzidos a partir da união de duas ou mais variedades de uva.
A união de diferentes qualidades de uva — que pode variar de duas a quatorze (como o poderoso francês Châteauneuf-du-Pape) — tem o objetivo de melhorar o vinho, tornando-o mais rico em aromas e sabores, mais complexo e mais equilibrado.
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Muitos defendem o processo de blend como sendo uma arte milenar, minuciosa e quase artesanal. Afinal, para atingir um produto final com excelência, o enólogo deve conhecer muito bem as misturas que vai realizar, além de ter profundo conhecimento sobre as características gustativas e aromáticas de cada casta de uva.
Para encontrar o resultado perfeito, os diferentes tipos de uva podem ser separados ou até mesmo reunidos para passarem juntos pelo processo de fermentação. Esse método exige do produtor muita criatividade, experiência e sensibilidade para formar vinhos de corte preciosos e capazes de deixar sua marca no mundo.
Diferença entre vinhos de corte e vinhos varietais
Se os vinhos de corte são originários da mistura de duas ou mais castas de uva. Já as que são resultado de uma única variedade predominante, são chamados de vinhos varietais.
Para que um vinho seja considerado varietal, é preciso haver uma porcentagem (que varia de 75% a 90% dependendo do país) de uma única variedade de uva. Quando um enólogo opta por utilizar principalmente uma casta para a produção de seu vinho, ele representa na bebida todas as características e nuances da região de plantio da vinheira.
Sendo assim, os vinhos levam no seu rótulo o nome de apenas uma uva, mesmo que contem com outra variedade na sua produção. Por exemplo, um rótulo de Chardonnay é produzido básica ou inteiramente com uvas do tipo Chardonnay.
Um bom vinho varietal representa o que há de melhor em cada casta. Os Malbec são frutados e encorpados enquanto os Merlot são mais macios e os Chardonnay possuem acidez leve, e assim por diante. Já os vinhos de corte tendem à complexidade, com sabores e aromas diferenciados e variação de safra para safra.
A Borgonha, região tradicional francesa, é bastante conhecida pelos varietais, como Pinot Noir, Gamay, Chardonnay e Aligoté.
Os países do Novo Mundo, como Brasil, Chile, Estados Unidos, Austrália, África do Sul, Nova Zelândia e Argentina também focam suas produções nos vinhos varietais.
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Diferentes tipos de vinho de corte
Os vinhos de corte podem ser produzidos de duas principais maneiras:
Vinhos de corte da mesma safra
Essa combinação para a criação de vinhos de corte utiliza uvas diferentes, porém cultivadas na mesma safra ou ano. Essa técnica pode dar origem a vinhos simples, como a união de uvas Merlot e Cabernet Sauvignon, e também pode originar exemplares mais elaborados, como um Châteauneuf-du-Pape.
Vinhos de corte de safras diferentes
Alguns vinhos, como o do Porto e o Champagne, entre outros, formam seus cortes mesclando uvas cultivadas em diferentes safras para equilibrar taninos, sabores e outras características do vinho. Normalmente, contam com essas descrições em seus rótulos.
Principais fatos sobre os vinhos de corte
A mistura de variedades torna os vinhos mais complexos
Como já comentado, os vinhos de corte são criados para maximizar a força de um rótulo. Pode ser para melhorar aromas, cor, textura, corpo e acabamento, tornando a bebida mais equilibrada e complexa.
Se um vinho não tem coloração, por exemplo, o enólogo pode adicionar 5% de uma casta com cor mais intensa e pode ainda testar sua mistura com diferentes variedades provenientes de outros vinhedos.
A uva Merlot geralmente é usada para dar ao vinho um aroma melhor e torná-lo mais fresco ou mais suave. A Cabernet Franc ou Cabernet Sauvignon são frequentemente adicionadas para dar estrutura ou concentração de taninos, deixando o vinho com um caráter mais poderoso.
Criar a mistura perfeita também depende das características do ano e da expressão de cada uva. As possibilidades de combinações que resultam em uma mistura de qualidade são infinitas.
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A linha do tempo para a produção dos vinhos de corte pode variar
Os vinicultores normalmente realizam as misturas em um tanque de aço. Os vinhos de corte de menor custo raramente são envelhecidos em carvalho, enquanto as misturas de alto custo geralmente são envelhecidas nesses recipientes.
Alguns produtores colocam os blends dos vinhos em um barril de carvalho no meio do processo de envelhecimento. Outros preferem colocar os vinhos juntos apenas de uma a duas semanas antes do engarrafamento. Há ainda os que tentam deixar os vinhos fermentarem juntos do início ao fim.
Como o objetivo é desenvolver o melhor de todos os componentes, cada vinícola determina qual abordagem funciona melhor para o vinho que pretende elaborar.
Alguns varietais são produzidos para virarem vinho de corte
Os enólogos frequentemente produzem barris de Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot e outros vinhos exclusivamente para a elaboração de vinhos de corte. À medida que a colheita das uvas começa, os produtores determinam o que eles acreditam que será a melhor fórmula para a mistura.
A partir disso, com os barris destinados ao blend, eles podem experimentar e encontrar a melhor combinação para os vinhos de corte. A ideia é destacar a força e as maiores qualidades de cada uva para complementar as outras que também serão utilizadas na mistura.
Dica: A influência dos barris de carvalho no aroma e sabor dos vinhos
Os vinhos de corte mais famosos do mundo
Toda vez que o enólogo respeita o terroir que tem à sua disposição, ele terá como produto uma uva equilibrada, com condições ideais de acidez, açúcar e madureza que vão desde a semente até a casca. Essas vinhas não necessitam de química corretiva e acabam resultando em ótimos exemplares de vinho. Veja agora alguns dos cortes mais conhecidos e estimados do mundo:
Corte Bordalês
Um exemplo clássico de vinho de corte é o Bordalês. A uva Cabernet Sauvignon produz um vinho tânico, austero e colorido que frequentemente é mesclado com o de outras variedades, encontrando a maciez vinda da Merlot e as notas frutadas da Cabernet Franc.
Essa combinação forma o famoso vinho francês de Bordeaux, com sabores e características equilibradas e inesquecíveis. O corte bordalês é tão apreciado que a mistura já é reproduzida em outras regiões produtoras do mundo, como Austrália e Califórnia nos Estados Unidos.
Corte em Champagnes
Como o próprio nome indica, os Champagnes, da região também francesa de Champagne, produz espumantes gloriosos e apreciados mundo afora. Ele pode ter em sua composição até três castas permitidas: Pinot Noir, Chardonnay e Pinot Meaunier — essa última existe apenas na região.
Os espumantes mais encorpados são aqueles que contam com maior quantidade de Pinot Noir na composição, enquanto os mais leves e delicados são os que têm mais Chardonnay no conjunto.
Corte GSM
A sigla GSM indica as iniciais das três uvas tintas que se combinam para formar esse corte: Grenache, Shiraz e Mourvèdre. Aparece tipicamente nos vinhos da região do sul da França do Vale do Rhône, como nos rótulos Côtes du Rhône e o Châteauneuf-du-Pape, um dos mais célebres do mundo.
Os vinhos Châteauneuf-du-Pape podem contar com até 14 variedades de uva em sua composição e a combinação de todas elas forma um mosaico perfeito. Esses exemplares são concentrados, potentes, aromaticamente complexos, com acidez refrescante e taninos evidentes.
O corte GSM dá origem a vinhos muito macios, frutados e de corpo robusto, podendo ser consumidos ainda bastante jovens. É um método muito comum nas produções californianas e australianas.
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Corte Alentejano
O corte de Alentejo possui uma riquíssima produção de rótulos memoráveis, ideais para quem gosta de variar de adegas na experimentação. O Alentejo é a maior região de Portugal, que não poderia ficar sem um corte típico, que varia bastante nas combinações.
Os vinhos mais clássicos alentejanos contam com as uvas Trincadeira, Aragonez (Tempranillo) e Alicante Bouschet. Porém, já existem muitas outras variedades de castas, como a Castelão e a Touriga Nacional, que são pedidas indispensáveis para a elaboração dos vinhos mais jovens e frutados.
Corte Duriense
Esse método é uma versão de vinho de mesa do delicioso corte do vinho do Porto. Característico da região portuguesa do Douro, esse clássico mescla as cepas Tinta Amarela (chamada de Trincadeira no Alentejo), Tinta Barroca, Tinta Roiz (Tempranillo), Tinto Cão, Touriga Franca e Touriga Nacional.
A alta porcentagem da última variedade empresta requinte e elegância ao corte, que dá origem a vinhos com taninos bem estruturados, equilibrados e de bom corpo.
Corte Australiano
Surgido em meados de 1990, esse corte combina com maestria as uvas Shiraz e Cabernet Sauvignon. A Shiraz — ou Syrah como é chamada na sua região de origem, o Vale do Rhône — viajou para a Austrália há muitos anos, onde passou a ser largamente difundida e a dar origem a tintos notáveis.
Não é por acaso que esse corte conquistou o coração e o paladar de apreciadores de todos os países. O produto da união dessas duas uvas é um vinho delicioso, com taninos agradáveis e muito frutado. A versão branca do corte — que junta as castas Chardonnay e Sémillon — confere notas herbáceas e acidez à bebida.
Dica: O que são os taninos e por que eles são tão importantes?
Corte Chianti
Um dos vinhos mais emblemáticos da Itália também é um vinho de corte. Produzido na Toscana, mais especificamente na cidade de Chianti, esse vinho é elaborado com uma proporção de até 90% da uva Sangiovese e combinado com outras castas locais, tanto brancas quanto tintas, como a Canaiolo Nero e a Trebbiano.
As sete regiões da Toscana são consideradas as melhores para a produção dos vinhos Chianti Classico e Chianti Rufini. Esse corte é distinguido por seus sabores arrojados que incluem uma variedade de notas, desde sabores frutados como cereja e ameixa até os sabores mais escuros de amêndoas e café.
Corte Supertoscano
Apesar de não ser oficialmente reconhecido pelo sistema de classificação de vinhos da Itália, essa é uma verdadeira joia para os apaixonados por vinho. Seu surgimento se deu na década de 1970, quando alguns produtores da Toscana começaram a adicionar outras uvas ao Chianti para criar misturas e vinhos com maior qualidade.
Entretanto, o regulamento não permitiu classificar o vinho como Chianti devido às diferentes proporções necessárias determinadas na época. Apesar de ser extraordinário, o corte ganhou o título de vinho de mesa, ou Vino de Tavola, o patamar mais baixo da classificação da pirâmide italiana.
Para diferenciá-los dos demais vinhos de mesa que não tinham tanta qualidade quanto, os críticos passaram então a chamar esses exemplares de Supertoscanos.
Esse famoso corte forma seu conjunto mesclando as uvas Sangiovese, Merlot e/ou Cabernet Sauvignon. Essa última, como sempre, oferece estrutura e é responsável pelos taninos, enquanto a Merlot traz maciez e a Sangiovese agrega bastante acidez ao corte. São ótimos vinhos para guarda.
A técnica de vinificação empregada nos vinhos de corte vem sendo utilizada há centenas de anos e gerando verdadeiros fãs das combinações criadas. Contudo, poucas são pessoas que percebem que alguns de seus vinhos preferidos são, na verdade, classificados como vinho de corte.
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Os blends ou assemblages conquistaram uma grande popularidade no mundo devido à sua versatilidade e abundância de aromas e sabores. E, graças às habilidades dos enólogos de criar sinfonias complexas, os apaixonados por essa bebida podem desfrutar de exemplares únicos e aperfeiçoados.
Agora que você conhece tudo sobre esse conceito, já pode começar a pesquisar os mais diversos rótulos de vinho de corte para experimentar!
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