Afinal, por que existe preconceito com vinhos suaves?


Afinal, por que existe preconceito com vinhos suaves?

Uma das grandes belezas com que nos deparamos ao olharmos para o mundo do vinho é a riqueza que encontramos a partir da fermentação de uma única fruta: de tintos tânicos a espumantes delicados, de vinhos suaves a brancos refrescantes — a bebida de Baco é generosa e se apresenta em versões que agradam a todos os gostos.

Mesmo assim, no Brasil, os chamados vinhos suaves ou doces ainda sofrem muito preconceito, sendo associados a bebidas de baixa qualidade e que têm a oferecer pouco mais do que uma ressaca memorável na manhã seguinte.

Para ajudar você a quebrar esse preconceito e expandir as possibilidades da sua adega, preparamos este material com tudo o que você precisa saber para se deliciar com alguns dos melhores vinhos já produzidos. Acompanhe!

O que são vinhos doces ou suaves?

Antes de prosseguirmos para os motivos do nosso preconceito, é importante entendermos as diferenças entre os vinhos secos, meio secos, doces e suaves.

Segundo a legislação brasileira, essa distinção é feita com base na concentração de açúcar residual do vinho. Ou seja, em quanto de açúcar sobra na garrafa ao término do processo de produção da bebida.

Assim, o vinho é considerado seco se tiver até 4 gramas de açúcar por litro de bebida, e meio seco se apresentar entre 4,1 g e 25 gramas de açúcar residual por litro. Já os vinhos com concentração de açúcar acima de 25 gramas por litro são chamados suaves.

Dica: Como funciona o processo de evolução de um vinho?

Por que temos preconceito?

Alguns motivos culturais concorrem para nosso preconceito com os vinhos suaves. Um deles é o fato de, por sermos consumidores recentes, tendemos a crer que o bom vinho é o vinho seco, talvez em um esforço de diferenciar os consumidores “sérios” dos bebedores dos famosos vinhos de mesa, popularmente conhecidos como de "garrafão", que ainda ocupam uma imensa parcela do mercado de vinho do país.

Outro ponto digno de nota sobre os preconceitos existentes no mundo do vinho, é que ainda acredita-se que nosso mercado é composto majoritariamente por homens e bebidas doces ainda são consideradas “femininas”, “bebida de mulher” e outros jargões anacrônicos do tipo. Homem de verdade, segundo essa ótica, bebe seco: seja vinho, seja uísque. 

Assim, geramos um círculo vicioso em que importadoras e restaurantes não oferecem vinhos suaves por receio sobre sua aceitação, e o público não entra em contato com bons vinhos suaves porque não os encontra à disposição. 

Quais os tipos de açúcar utilizados?

Já mencionamos que tanto vinhos doces como vinhos suaves apresentam altas concentrações de açúcar residual, superando facilmente os 25 g por litro. Então, o que diferencia esses dois vinhos?

A resposta está no processo de elaboração. Enquanto os vinhos doces (também chamados de licorosos) obtêm seu açúcar exclusivamente das uvas, já os vinhos suaves, podem receber um acréscimo de açúcar de origem exógena (cana de açúcar ou beterraba) ou até mesmo oriundo do suco das uvas concentrado. Observando todos estes fatos, os vinhos doces mais famosos são feitos por processos mais complexos e detalhados, os quais serão descritos a seguir.

Colheita tardia

Nessa técnica, as uvas são colhidas muitos dias após a maturação ideal, o que aumenta a concentração de açúcares nas bagas e, consequentemente, no vinho. É um processo lento e cauteloso, pois algumas uvas não resistem a este tempo de sobrematuração. 

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Podridão nobre

São vinhos muito produzidos nas regiões de Sauternes (França) e Tokaj (Hungria). O processo de concentração dos açúcares ocorre quando o fungo Botrytis Cinerea se instala na casca das uvas e as desidrata.

Interrupção da fermentação

Esta técnica pode ser aplicada pela adição de um destilado de uvas, que interrompe a ação das leveduras e aumenta o teor alcoólico do vinho. É o processo utilizado para produzir o famoso Porto.

Além dessas técnicas, há ainda outras, como a passificação das uvas, que visam aumentar a concentração dos açúcares no interior da fruta. Todas essas técnicas podem ser utilizadas isoladamente ou combinadas, dependendo do resultado pretendido e das regras específicas de cada região.

Agora que você já conhece o processo por trás da produção dos vinhos suaves, pode se entregar sem medo à degustação de alguns dos melhores rótulos do mundo.




Por
19/04/2018

Enólogo, Sommelier e Embaixador da Marca.


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